Hoje, acordei com vontade de escrever um artigo descompromissado em meu blog – coisa inédita. Mas, diante de pressões e doses diárias de stress, resolvi parar um pouco para refletir sobre a maldição (ou bênção) de se buscar o conhecimento e a sabedoria com tanta “sede”.
Sempre me inspirei nas palavras de Marcus Tullius Cícero, ditas lá no Século Primeiro antes de Cristo: “Não basta conquistar a sabedoria, é preciso usá-la.”. Esse pensamento sempre foi minha diretiva número 1: busca contínua pela sabedoria e o seu uso em prol de meu bem estar, das pessoas que gosto e do social.
Se eu estudo de três a quatro horas por dia é para manter o bom emprego (na verdade bons empregos) que tenho, bem como para aumentar minha renda periodicamente. Qualquer um que estudou o básico da economia sabe que é axiomático o fato de que a renda altera a curva de utilidade, bem como as cestas de consumo, desta forma o bem estar. Lógico e evidente que não estudo para fazer graça ou esnobar àqueles que acham que estudar é desnecessário. Afinal, não estudar está na moda. Nestas últimas eleições não foi eleito um palhaço com suspeitas de analfabetismo para Deputado Federal? E quantas frutas, ex-esportistas, famosos de reality show também se deram bem sem o mínimo de preparo, escolaridade e/ou cultura?
Diante dessas exceções, pode-se ter a falsa impressão de que estudar é perda de tempo. Costumo sempre usar o exemplo do futebol. Quando falamos desses atletas, só lembramo-nos do glamour e dos altos salários de Ronaldinho Gaúcho, Kaká, Pato, dentre tantos outros. Mas nos esquecemos que eles são exceção. A realidade é que, em pesquisa realizada em 2007 (dados de 2001), 42,62% dos jogadores profissionais de futebol no Brasil recebiam até 1 salário mínimo; 39,55% entre 1 e 2 SM; 7,35% de 2 a 5 SM; 3,56% de 5 a 10 SM; e 6,92% mais de 10 salários mínimos. Ou seja, lembramos e usamos como exemplo a minoria, a exceção e nos esquecemos que 93,08% recebem m salário igual ou inferior a R$ 5.100,00 por mês. Ora, nessa grande fatia quero destacar que 82,17% recebem até 2 SM, ou seja, R$ 1.020, e irão se aposentar precocemente no futebol. E depois quais serão suas atividades? Lavrador, chapa, roupeiro, político? (RODRIGUES, F. X. F. A situação do negro no futebol brasileiro: trabalho, desigualdade e vulnerabilidade social. Akrópólis, Umuarama, v. 15, n. 4, p. 179-189, out./dez. 2007).
E digo mais: toda a profissão possui a mesma disparidade, onde os melhores ganham muito e os profissionais comuns, sem um talento que o diferencie, ganha pouco. Logo, aproveito o talento que Deus me deu que é a paixão pela leitura e pela busca do conhecimento. Com certeza não ganharia um salário mínimo no futebol. E que me perdoem aqueles que acham que sou esnobe, “metido” - dentre outros adjetivos que já escutei – quando externalizo que sou apaixonado pelo que faço, e me esforço para ser um dos melhores no que faço - afinal ser o número 1 é utópico, mesmo porque não estamos falando de ranking da ATP - e que luto para ser um profissional diferenciado.
A propósito, no ano passado, um amigo meu disse que ia mudar de curso, de Ciências Contábeis para Direito, pois no primeiro dia de aula, um professor de uma matéria fundamental para se iniciar nas Ciências Contábeis, teve a coragem (digo coragem para não dizer outra coisa) de dizer que contador era uma classe desvalorizada, que ganha muito mal e se ele (o professor) estava ali dando aulas, é porque não ganhava o suficiente como contador. Se vamos vaiar aqueles que dizem que estão realizados profissionalmente, que tal aplaudir esse mal remunerado e desvalorizado contador, que tem que fazer “bico” como professor para interar a renda. Meu Deus, eu tenho medo dos futuros profissionais que passarem por desse docente.
Vou contar outro caso, sem citar nome de faculdade ou das partes envolvidas. Nesse semestre, uma turma pediu substituição de um professor. E o novo docente substituto, profissional sério, de conduta ilibada e muito conhecido na cidade, também não está agradando por ser bom demais e exigir muita leitura e trabalhos extraclasse. Ora, não é paradoxal? E agora, a mesma turma, escaldada com gato em água fria, apesar de estar insatisfeita com outro professor neste semestre, está com medo de reclamar para a coordenação com o receio de que venha outro professor muito exigente.
Bom, a verdade é que o sucesso dos outros incomoda àqueles que não o tem. A verdade é que, ao dizer que se é bem sucedido, soa como arrogância. Enquanto aqueles que, mesmo com vergonha de sua mediocridade e limitação, assumem que são mal sucedidos, seus iguais se deliciam com seu fracasso.
Voltando a Cícero, continuarei a usar minha sabedoria e conhecimento em prol do meu bem estar. E faz parte do meu bem estar compartilhar tudo que sei com aqueles que têm a mesma paixão pelo conhecimento. Àqueles que não querem aprender e ensinar – pois a relação é de troca no processo ensino-aprendizado – cabe-me apenas lamentar enquanto professor e acadêmico, mas irei me deliciar com um mercado sem ameaças. Àqueles que não querem estudar e acham que todos que se esforçam são arrogantes, fica minha mensagem: Como no futebol, aqueles com diferenciais ganham bem acima daqueles que são considerados comuns. Já pertenço ao seleto grupo de 4,6% dos contadores brasileiros que possuem os salários top. E você, irá se esforçar para chegar lá, ou vai ficar perdendo tempo culpando o mundo por seus fracassos e perdendo tempo a difamar e adjetivar pejorativamente aqueles que têm sucesso?
Se a maldição de me esforçar e externalizar toda minha paixão for ser o “cara mais medito do mundo” – não sei consigo, mas se for para ser assim, quero ser um dos mais, pois sou muito competitivo – aceito-a como Simão Sirineu aceitou seu fardo na paixão de Cristo. Pois, acredito que as bênçãos que tenho obtido de minha gratificante e apaixonante profissão superam qualquer cruz que tenha que carregar.
Fazemos nosso destino. Pense nisso.....
terça-feira, 5 de outubro de 2010
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